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A criação de um novo normal

Ainda que o que vem por aí, no Brasil e no mundo, seja de certa forma desconhecido, ser parte da criação de um novo normal é fazer um exercício sob o olhar de gestão de pessoa e de recursos humanos. Faz todo o sentido no momento. Afinal, esta crise possui um forte componente humanitário. Ela trata de pessoas: pessoas que, infelizmente partiram; que estão nos hospitais, internadas e também aquelas que, heroicamente, cuidam daquelas pessoas; pessoas que cuidam de pessoas em casa; que contribuem para suas organizações não sucumbirem nesse novo temporal de mercado; pessoas que, nas empresas, também cuidam de pessoas…

Sim, falamos de RH! E de outros líderes também, responsáveis, sempre, pelos bons exemplos que esperamos que ofereçam.

Praticamente, de uma hora para outra, muitas empresas tiveram de criar seus comitês de crise para traçar uma lista de ações emergenciais. Obrigadas a serem ágeis, literalmente, deram um forte impulso no home office. Reforçaram os cuidados com a saúde física e mental de seus colaboradores. Passaram a buscar alternativas para manter os empregos… Ao mesmo tempo, já sondam os ares do futuro em relação aos negócios, se preparando para o momento de retomada. Pois toda crise passa.

ESTAMOS APRENDENDO, A DURAS PENAS, QUE ALIMENTÁVAMOS A FALSA SENSAÇÃO DE TER CONTROLE SOBRE TUDO. MAS BASTOU UM MICRO-ORGANISMO PARA BAGUNÇAR MACRO-ORGANISMOS. PERDERMOS AS CERTEZAS, ACELEROU-SE O PROCESSO DE QUE AS RESPOSTAS ANTIGAS NÃO DÃO CONTA DE INTERROGAÇÕES NOVAS…
Assim, pensando em nossa presença no mundo que virá, teremos, muito provavelmente, de nos adaptar a uma reaproximação paulatina entre as pessoas – nada de forma ampla, geral e irrestrita, pois a anistia será outra, mais controlada. O mercado pode seguir um caminho de forte automatização e de adoção de home office.

De acordo com a pesquisa Tendências de marketing e tecnologia 2020: Humanidade redefinida e os novos negócios, feita pelo diretor-executivo da Infobase e coordenador do MBA em marketing e inteligência de negócios digitais da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Miceli, o teletrabalho deve crescer 30% após a crise do novo coronavírus. E o e-commerce e o ensino a distância, 30% e 100%, respectivamente.

“O home office já se mostrou efetivo. Aliado a isso, você tira carros da rua, você desafoga o transporte público, você mobiliza a economia de outra forma. E você faz com que as pessoas tenham mais tempo para cuidar da saúde delas e que possam usufruir de coisas que lhes dão prazer – sem que você tenha uma redução das entregas e do faturamento”, diz Miceli.

No que se refere à automação, o McKinsey Global Institute estimou que 60% de todos os empregos poderiam ter mais de 30% de suas principais tarefas automatizadas, afetando de 400 milhões a 800 milhões de trabalhadores em todo o mundo até 2030. E talvez isso cresça.

“Está se tornando possível imaginar um mundo de negócios – do chão de fábrica ao consumidor individual – no qual o contato humano é minimizado. Mas não eliminado: para muitas pessoas, voltar ao normal incluirá uma nova visita às lojas, e os quiosques nas estradas, típicos de grande parte do mundo em desenvolvimento, não serão substituídos por hipermercados. Pacientes com necessidades complexas ainda desejam consultar seus médicos pessoalmente, e muitos tipos de trabalhos não são automatizáveis. Mas as tendências são inconfundíveis – e provavelmente irreversíveis”, escrevem Sneader e Singhal.

No novo normal, o local muda. E as relações também

A relação das pessoas com as empresas tende a mudar. Em padrão de consumo dentro e fora delas. Do lado do consumidor, assistimos à perspectiva de uma preocupação crescente com o que é essencial para a sobrevivência (e para a saúde), e, a reboque, com o que é importante para viver com mais saúde. O que pensar, a partir daí, em termos de desejos dos funcionários, ou seja, o consumo “interno” dos benefícios oferecidos pelas empresas?

Ações de atenção primária à saúde, tão valorizadas em artigos e eventos, serão mais fortalecidas? Programas de prevenção farão parte da estratégia de negócios? Como incluir o fator pandemia como risco nos programas de sucessão, lembrando-se da morte, por exemplo, do presidente do conselho de administração da unidade portuguesa do banco Santander, António Vieira Monteiro, em março, em função do novo coronavírus?

Essas mudanças impulsionariam um novo e forte apelo dos planos de assistência médica e outros ligados à saúde, em especial à saúde mental, para atrair e reter talentos? Oferecer horário flexível vai se tornar mais frequente, agora que as pessoas passaram a conviver mais com a família?

Ouso dizer que, em alguns casos, muitas pessoas descobriram que tinham uma família… E a educação corporativa estará mais ancorada no ensino a distância? O que a tecnologia acelera e traz ainda mais em termos de mudanças, em um ambiente de pandemia, para as empresas?

“A crise nos ensinou a cooperarmos mais, a usarmos a tecnologia para aproximar pessoas. Colocou também sob nova perspectiva a necessidade de grandes escritórios, de trânsito engarrafado, de horários fixos, estruturas rígidas. Mostrou, ainda, a importância da nossa vida doméstica, de conciliar trabalho e família”, comenta Lucia Madeira, presidente da seccional da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Rio de Janeiro (ABRH-RJ).

Para Lucia, a crise também valorizou as qualidades humanas de empatia e solidariedade e o reconhecimento pelas atividades essenciais de cuidado das pessoas e da cidade. “Esses efeitos marcarão todas as gerações que vivenciam este momento, dure quanto durar”, conclui. [Gumae Carvalho]

Fonte: Revista Melhor

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COVID-19
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